Sobre ser bem sucedido em uma sociedade falida

Por Paloma C. Mamede - 21/07/2017


Um amigo meu disse que eu nunca vou chegar onde eu quero com as ideias que eu tenho. Ele disse que eu nunca sairia da “sarjeta” que eu vivo se eu continuar pensando como eu penso. E, mais, ele mandou eu comparar daqui há uns anos e disse que o sucesso dele seria incomparável ao meu, porque ele pensa em si mesmo. Ele disse que não quer ser o “good guy”, ele quer ser o “bad boy”, o “playboy” bem sucedido. 

É tudo sobre dinheiro, como já dizia Pink Floyd: “Get a good job with more pay and you're okay”. Para todos os cantos que eu olho na minha cidade, cada cantinho por mais escondido que seja está infestado de corrupção, mas a guerra não está entre a corrupção e o povo, devia. Está entre as ideias, as ideologias. Esquerda VS Direita... Entre outros ganchos. Portanto, a corrupção continua, é tudo sobre ser o “bad boy” cheio da grana.

Eu pego meu coração no meio de tudo isso, e o observo no escuro, longe das luzes, dos holofotes, longe do glamour, e quase longe da miséria... E, penso “Onde eu me encaixo nessa guerra?” Meu amigo, eu nem sei se ainda posso chama-lo assim... Claro que ele pode ter razão sobre o tipo de significado que ele designa para a palavra “sucesso”. Sucesso de gente corrupta? Como ser bem sucedido em uma cidade que há tanta podridão? Como ter um coração no meio de tudo isso? Como sangrar todos os dias pelos tiros alheios?

Essa crônica vai ser grande, desculpa por isso. Eu comecei a escrever tentando encontrar uma espécie de porto seguro que me levasse para bem longe do mundo real. Então, eu admito que o mundo real nem sempre é o que eu quero para mim. Porque no caos, e na crueldade do mundo, ninguém se importa se você tem um coração. Chester Bennington morreu essa semana, e quando eu soube disso, veio em minha mente pedacinhos de imagens de galáxias se chocando. Um ícone para mim, e para tantos, alguém que toca o coração de tantos, teve o seu estilhaçado em uma explosão de átomos todos os dias.

Eu não sei o tipo de caos exato em que ele viveu. Contudo, ser bem sucedido com certeza não é ter fama, ou dinheiro. E, não sei se é possível ser bem sucedido na sociedade em que vivemos, porque ela não permite o bem-estar. Não são problemas isolados. Não são massacres isolados. São socos que fazem cada alma tremer e desejar muitas vezes sair da matéria para que sentir se torne impossível. E o Estado continua gerando o caos ao seu favor, enquanto ao final do dia a postura cai, e as pessoas revelam suas próprias cicatrizes no escuro quando ninguém mais pode ver. Quando até a alma finge não notar os próprios flagelos.

Eu tenho uma vizinha, todos a chamam de “louca”. Pois, cada dia para ela é uma nova voracidade de gritos e brigas que ela arranja com quem passa, e até com quem não passa, e até com o que só existe somente em sua mente. Ela fala de pessoas invadindo a casa dela, ela pede ajuda, e o que vem em retorno é apenas silêncio. Ela briga pelos quatro cantos, e até hoje eu não sei qual a diferença entre ela e eu. Eu tenho brigas silenciosas tão intensas quanto as dela, o mundo todo é feito de gritos que estão sendo encobertos com o silêncio todos os dias.

Sabe de uma coisa? Às vezes eu gosto de encobrir os meus gritos escrevendo, é uma espécie diferente de silêncio, porque em algum momento meu silêncio grafado aqui encontra alguém, e nesse momento parece que todo e qualquer desabafo tem alguma importância em toda a indiferença de um mundo que acha que não se importar é sinônimo de ser bem sucedido. 

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