Nesse dia eu ia para a casa dos meus pais, então organizei tudo e saí em direção ao ponto de ônibus. No meio do caminho, percebi que estava esquecendo o mais importante: o dinheiro da passagem. Voltei correndo, ofegante, brava e estressada.
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Nesse dia eu ia para a casa dos meus pais, então organizei tudo e saí em direção ao ponto de ônibus. No meio do caminho, percebi que estava esquecendo o mais importante: o dinheiro da passagem. Voltei correndo, ofegante, brava e estressada.
Nesse dia eu ia para a casa dos meus pais, então organizei tudo e saí em direção ao ponto de ônibus. No meio do caminho, percebi que estava esquecendo o mais importante: o dinheiro da passagem. Voltei correndo, ofegante, brava e estressada. Fui murmurando até chegar lá e ficar aguardando o ônibus chegar. A vida é assim, qualquer mínimo detalhe desestabiliza nossa paz. O ônibus estranhamente, dessa vez, demorava para passar. Demorava, demorava, demorava… E, isso fazia o tempo sobrar para pensamentos supérfluos, ansiedade e queixas.
Uma moça chegou com um carrinho de bebê e outra criança. O irmão mais velho tinha por volta de 7 anos, carregava uma mochila de rodinhas com o zíper aberto, pois estava levando várias pastas e documentos que eram grandes demais para caber dentro da mochila fechada. Ele estava traquinando, jogando a mochila de um lado para o outro, dançando, mas acima de tudo: sorrindo. O irmão mais novo devia ter menos de um ano, estava sentado no carrinho, comendo milho com uma mão e brincando com moedas com a outra. Ele jogava as moedinhas dentro do porta copos do carrinho, jogava, tirava, jogava tudo de novo. Surgiu uma pequena preocupação em minha mente de que aquela criança poderia engolir uma daquelas moedas, isso me fez fixar os olhos no menino e não conseguia parar de observar, afinal caso o pior fosse acontecer, eu poderia intervir.
A mãe estava com uma bolsa de viagem azul, várias sacolas de mercado e algumas coisas amontoadas em cima do carrinho. Ela entregou uma melancia para o filho mais velho levar, ele não aguentou, era muito pesada, ela começou a praguejar dizendo que ele precisava ajudá-la, pois ela não ia conseguir levar tudo. Em meio a tudo isso, ela me abordou, perguntou as horas, eu disse que provavelmente ainda não eram seis horas da tarde.
Passou alguns minutos, nada do ônibus passar. Ela olhou no fundo dos meus olhos e disse:
— Moça, posso te perguntar uma coisa?
— Claro! — Respondi.
— Por que os homens da igreja são tão machistas? — Ela parecia perturbada e instável.
— Os homens, no geral, acham que são donos de tudo. — Afirmei.
Esse foi o ponto de partida para que aquela moça começasse a contar a sua história. Ela disse que tinha acabado de ser despejada da casa que alugava. O dono do estabelecimento não deixou que ela retirasse todas as suas coisas, ela tentou trazer o máximo de objetos que conseguia e as coisas mais importantes. Ela começou a chorar, dizendo que foi à casa da pastora pedir ajuda para guardar as coisas dela lá enquanto ela não encontrava um novo lugar para alugar. O pastor logo se intrometeu e disse que não era para aceitar. A pastora constrangida ofereceu uma carona para levá-la ao seu destino, acredito que ela estava indo para a casa de algum parente ou conhecido. O pastor novamente impediu.
Ela saiu de lá desolada, rumo ao ponto de ônibus com seus filhos e suas tralhas. Ela disse algo tão profundo que eu nunca vou apagar da minha memória: “Às vezes dá vontade de pagar alguém pra acabar com tudo, queria que alguém me matasse”. Doeu, porque naquele momento eu não podia fazer nada para mudar a sua jornada de vida, era incapaz de oferecer qualquer auxílio e não tinha dinheiro, apenas a passagem do ônibus. A dura verdade da vida é que cada um de nós tem as próprias tralhas para carregar e dar conta da carcaça do corpo, mais um aglomerado de frustrações empilhadas nos ossos, mais pessoas que amamos, mais sonhos que morrem estilhaçados pela simples necessidade de sobreviver.
Respirei fundo, disse à ela que ela iria ter que ser forte, que ela tinha uma vida pela frente e tinha que lutar pelos filhos. Eu sei, eu era apenas uma moça no ponto de ônibus que não fazia ideia do mar de cicatrizes entranhadas em seu âmago. A questão principal é: devemos incentivar a vida ou a morte? Senti naquele momento cálido que eu poderia piorar tudo com palavras negativas.
O ônibus passou, subimos, ela com os filhos, o carrinho e toda a bagagem, eu apenas com uma bolsa, nada mais. No percurso do ônibus, o diálogo que tivemos se repetia freneticamente nos meus pensamentos. Tive ódio dos meus resmungos superficiais sobre tudo, tive uma epifania de que a vida era muito mais do que qualquer mínimo detalhe.