A gente quer saída para qualquer parte

Por Paloma C. Mamede - 03/10/2017


Arte por Mikael Omik/Foto por Paula Pratini

“A gente não quer só comida

A gente quer bebida, diversão, balé

A gente não quer só comida

A gente quer a vida como a vida quer” 

(Titãs)

 

Eu não sei que tipos de bocas eu devo beijar, que tipo de amores eu devo viver, que tipo de abraços eu devo gastar... Eu não sei que tipo de sociedade eu devo almejar, e todas essas coisas onde apenas a insanidade toca. E, surgem alguns delírios de mau gosto, e os gostos pelos vícios. E foi assim que um dia eu fui a um evento Otaku no Museu Nacional e fui parar em um bloquinho de Carnaval depois. Eu fico imaginando que tipo de juventude é a nossa que está em todo e qualquer lugar que possa oferecer o mínimo de diversão.

E sabe, nesse dia eu comprei a Revista Traços, e eu pude também escolher a Edição que contava a história da moça que vendia as Revistas. Eu olhei bem nos seus olhos, e eu soube no mesmo instante que a minha juventude vinha de ramos diferentes da dela, mesmo antes de ler a história, eu a li pelos olhos desconsertados. Porém, vivos, intensos, mais intensos que os meus, mais assertivos que os meus, com uma fome de vida diferente da minha.

E lá vamos nós, buscando essas saídas por toda a parte para preencher um individualismo bizarramente difundido no dia a dia. Todos se sentem sozinhos, enclausurados em seus instagrams perfeitos, cheios de cultura pop, exalando o melhor de nossas personas, todavia eu me pergunto “onde eu posso colocar meu coração nesse mundo?”, “o que eu devo fazer com o meu coração?”. E foi assim que eu fui parar em todos esses rolês tão distintos em um mesmo dia. O Museu já se tornou tradição da cultura jovem com os mais variados eventos que evocam uma pintada de “zoeira” e boêmia. Será que as nossas almas já são memes boêmios?

O que somos afinal? O que queremos? Diversão e Arte? Fome de vida em toda parte? Queremos revolução? Ou queremos o subsídio básico da meritocracia? Queremos beijos? Samba? Resistência? Queremos amor? Ou queremos apenas um diploma de enfeite? E daí, um beijo foi trocado em meio ao frevo todo, depois de uma história de quase morte e tortura, depois de almas no escuro, almas que nunca se conheceram e nunca vão se conhecer.

E daí, as bebidas foram trocadas, e os copos sedentos de sede, essa fome de ser qualquer coisa em qualquer lugar para preencher um vazio irreparável. Essa fome de conhecer o mundo inteiro em um segundo, e ser todas as metamorfoses que der. Esse jovem brasiliense que é tudo e de todas as formas, em todos os quereres, em todos os tropeços e trocas. É arte, é poesia, é rap, também é luta, é violência, é anime, é comida, é todos os estilos, é tudo que possa amenizar o vazio de uma cidade que sussurra a indiferença pelos ares. As paredes gritam muitas dores. Será que você já as ouviu? Será que já leu o desespero de alguém?

Onde estão os rolês? E as amizades de rolês, dessas que só sabem o nome da pessoa que vai a tudo e qualquer coisa? E, onde está à cumplicidade da luz do dia? Longe dos holofotes dos bailes? Onde estão os corações trancafiados? Será que você vai deixar o seu pássaro bukowskiano voar hoje à noite? Será que você vai meditar para a lua? Será que vai ao buraco do Jazz e vai dançar pelas áureas boreais do sax? Será que vai se esquecer em um poste? Será que vai lutar pelos seus ideais? Será que vai jogar o status quo na reciclagem? Será que vai indo Geek, Glitter, boêmio, emo?

E, digo mais, digo que somos uma desfragmentação de todas as fragmentações contemporâneas e ansiamos pela vida virtual que dá asas ao que não cabe na realidade, e vamos séries, vamos filmes, vamos jogos, vamos desenhos, vamos like, vamos following... Vamos tantas coisas, vamos politicando o que não sabemos ou até o que sabemos, e vamos nas gírias das cidades, indo de balão em balão em todos os eixinhos da vida. Vamos nessa ânsia de vida que deseja mais que tudo ter um coração seguro, escondido, protegido, vamos construindo nossas fortalezas, mesmo que todos os horizontes pareçam estar plenamente abertos.

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