A exposição traz a ancestralidade do terreiro pelas lentes de Ògan Assobá Luiz Alves, sob curadoria de Luazi Luango.
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A exposição traz a ancestralidade do terreiro pelas lentes de Ògan Assobá Luiz Alves, sob curadoria de Luazi Luango.
A partir de 05 de agosto, o Festival Mês da Fotografia 2025 (FMF) realiza edição especial com o tema “O que Vemos Quando Escutamos”. O evento reúne quatro exposições que atravessam os campos da inclusão, da ancestralidade e da criação poética. Uma delas é a exposição fotográfica de Ògan Assogbá Luiz Alves “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo”, trazendo a sonoridade das culturas de terreiro ao samba numa perspectiva cíclica. A exposição acontece no Museu da República e também faz parte do Festival Tardezinha do Samba, idealizado pelo músico Marcelo Café.
Ògan Assogbá Luiz Alves, 66, com 34 anos de iniciado no candomblé, de Resende-RJ, carrega em seu Santo e em sua dijina (nome tradicional) a ligação com o Ayê (a terra), com o chão do terreiro e tudo o que nele vive com missão de elevar aquilo que vive o ancestral africano. Ògan Assogbá Azawany Fareji (Cuidador da Terra) ou, como a maioria o conhece Ògan Luiz Alves, possui mais de 40 anos de carreira na fotografia, com foco na fotografia social. Iniciou sua carreira no Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda (RJ), em 1984, passou pelo Congresso Nacional, foi repórter-fotográfico da CPI do Sistema Carcerário. Fotógrafo premiado, Alves teve seu primeiro prêmio nacional de fotografia em 1983, no Concurso Nacional dos Economiários do Paraná. Já participando de movimentos negros e compondo o Asè Dudu, Ògan Luiz notou que não havia nada que representasse a cultura de matriz africana. Foi aí que, de forma restrita por ainda não ser iniciado, começou a fotografar a comunidade de terreiro.“Comecei a fotografar terreiro antes de ser iniciado na Casa de Pai Jorge de Oxossi. Nessas andanças fotográficas Oxossi perguntou se aceitava ser Ògan de Ode e eu aceitei”, afirmou.
No roncó (quarto onde fica recolhido para iniciar para o Orixá) recebeu uma missão: Doté Zezinho da Boa viagem, avó de santo na época, entrou no roncó e pediu que trabalhasse com a fotografia para mostrar para o mundo o quanto a religião de matriz africana é bonita. “Foi na época em que o livro do Edir Macedo demonizava as matrizes africanas e mexia com a autoestima do povo de terreiro. Nesse dia recebi o aval para seguir fotografando abertamente nossas casas de axé”. Dessa forma, para Alves fotografar e mostrar a beleza também é uma forma de contribuir para o combate ao racismo religioso.
Para o Babalorixá de Ògan Luiz, Pai Ricardo de Odé, o olhar de Luiz Alves retrata com sensibilidade as matrizes africanas, buscando mostrar a sonoridade e a beleza cultural dos terreiros, gerando, também, arquivo documental de estudos futuros. “O olhar sensível e detalhista de pai Luiz Alves é importantíssimo como registro das memórias ancestrais desenvolvidas dentro dos terreiros e que servirá como fonte de pesquisa para as futuras gerações”, afirmou.
A exposição
“Nós somos o começo, o meio e o começo. Existiremos sempre, sorrindo nas tristezas para festejar a vinda das alegrias. Nossas trajetórias nos movem, nossa ancestralidade nos guia.” (Mestre Antônio Bispo dos Santos).
Com essa frase de Nêgo Bispo, a exposição “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo” leva a confluência cíclica cunhada pelo filósofo, mostrando que as culturas de terreiro são circulares, convergem e se constroem num movimento que começa, desenvolve, mas não termina, ela recomeça. Assim como a vida que para as matrizes africanas não tem fim, mas segue nesse movimento cíclico. Assim como a própria sonoridade dos terreiros que começam e criam novos sons, novas culturas e recomeçam.
A exposição fotográfica “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo” apresenta 50 fotografias do fotodocumentarista Ògan Luiz Alves. Seu trabalho, exemplificado pela série "mo dudú" (sabedoria negra em iorubá), revela o cotidiano, os rituais e as celebrações dos terreiros de candomblé em Brasília, com a convicção de que a fotografia pode ser uma arma contra a intolerância racial, oferecendo um portal de conhecimento sobre as religiões de matriz africana e brasileira, muitas vezes incompreendidas e criticadas.
Sons da Terra convida a um diálogo profundo sobre a herança africana no Brasil, tecendo pontes entre a cultura de terreiro, o samba e a resistência ancestral, sob a luz de pensadores cruciais para a compreensão da negritude e de suas manifestações culturais.
A curadoria, a cargo de Luazi Luango, artivista e pesquisador da cultura de terreiro, busca não apenas exibir as imagens, mas contextualizá-las dentro de um universo de saberes e estéticas próprias. Como um líder de candomblé angola kongo e gestor da KITANDA Cultura de Terreiro, Luazi Luango traz para a curadoria uma perspectiva enraizada no chão dos terreiros, onde a arte está à serviço da manutenção e potencialização do legado cultural afro-brasileiro. “Ao ser convidado a me debruçar sobre o legado de meu mais velho Assobá, pedi licença e saudei a Terra; tal qual a natureza do orixá Omolú é arcabouço de memória. Feito arqueólogo, me envolvi nos registros de fotos documentais de Luiz Alves para narrar o legado de nossa gente.” conta o curador Luazi Luango.
A proposta curatorial se aprofunda na filosofia quilombola do intelectual Nêgo Bispo ao nos ensinar que “o desenvolvimento nos desconecta. A palavra boa é envolvimento.” A curadoria, portanto, atua como uma "encruzilhada" de saberes, na gira da circularidade, a exposição oferece ao visitante uma experiência imersiva e singular na cultura de terreiro.
Além de compor o FMF, Sons da Terra também faz parte do Festival Tardezinha do Samba, idealizado pelo músico Marcelo Café que considera um importante marco inicial para o festival, uma vez que a exposição estabelece o começo do Tardezinha que traz as culturas negras, por meio do samba e suas vertentes e correlações, marcando essa origem e contribuição dos terreiros para o samba. “Receber a exposição do Ògan Luiz com esse mote dos sons de terreiro é a gente grifar que o samba é reza e essa reza começou no terreiro. E hoje a gente canta e hoje a gente dança por conta dessa reza. Esse canto, esse som estará e sempre foi capturado por ele nas suas lentes”, declarou.
A exposição tem como pilar essencial a acessibilidade e terá audiodescrição, por meio de qr code, além de painéis de led com fones de ouvido fazendo a audiodescrição de algumas obras.
“Sons da Terra: Começo, Meio e Começo” estará em exposição de 05 de agosto a 07 de setembro recebendo visitas guiadas e visitas abertas no Museu da República.
Serviço:
Festival Mês da Fotografia apresenta “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo”
Data: de 05 de agosto a 07 de setembro
Local:Galeria 2 - Térreo do Museu da República
Horário de visitação: Terça a Domingo, das 9h às 17h
Entrada Franca.
Realização: Lente Cultural
Artista: Ògan Assogbá Luiz Alves
Curadoria: Luazi Luango
Apoio: Festival Tardezinha do Samba